Nós Somos Os Pais
Kay Kronquist
Somos os pais de crianças com necessidades
especiais. As nossas vidas estão
cheias de muitas coisas, umas boas, outras más.
Temos o nosso próprio alfabeto (*):EM, TO,
FT, TF, EEG, ECG, PEI, CCD, ATA, IMR.
Temos a nossa própria linguagem: criptogénico,
sem tratamento, perturbação, síndrome, intervenção
precoce, educação especial, inclusão,
atraso de desenvolvimento.
Temos muitos médicos: neurologistas,
pediatras do desenvolvimento,
neurocirurgiões, gastroenterologistas,
oftalmologistas, dentistas, alergistas,
cardiologista, geneticista.
Temos noites em branco e dias difíceis.
Temos menos sonhos e mais realidade.
Temos dores de cabeça: problemas na escola,
seguradoras, objectivos do PEI,
especialistas, sinalizações.
Temos mais consultas que jogos de futebol.
Temos tanto para fazer hoje, que é complicado
preocuparmo-nos com o amanhã, mas temos de estar
sempre um passo à frente.
Temos outras crianças que também querem o nosso
tempo e atenção. Faltam-nos babysitters, dinheiro
e tempo para nós próprios.
Precisamos de uma farmácia só para nós.
Peritos em desmontar cadeiras de rodas.
Somos um pouco de tudo: enfermeiros,
especialistas em seguros, motoristas,
saltamos “arcos em chamas”.
Não queremos piedade, mas uma
ajudinha dava jeito.
Queremos alcançar as estrelas, mas
até lá chegarmos tudo importa.
Escolhemos o riso, mas às vezes as
lágrimas aparecem.
Já não estranhamos os olhares, mas o que
queremos é sorrisos.
Tornamo-nos pessoas melhores – mais atenciosas,
mais compreensivas, menos preconceituosas,
menos críticas.
Decidimos estar gratos.
Agradecemos para sempre às pessoas
que estão ao nosso lado, dando apoio e coragem.
Unimo-nos aos outros pais, porque quantos mais,
maior é a segurança e o conforto.
Afastamo-nos daqueles que não compreendem e
não aceitam as nossas diferenças.
Aprendemos muito todos estes anos.
Vivemos com a certeza de que os nossos filhos
vão precisar sempre de um pouco mais de ajuda.
Aprendemos que “não” não é resposta. Aprendemos
a nunca desistir. Aprendemos a adaptar as nossas vidas.
Aprendemos que, quase sempre, conseguimos aquilo que queremos.
Aprendemos a escolher as nossas batalhas.
Aprendemos sobre quem realmente somos lá no fundo,
naqueles lugares que ninguém vê, senão nós.
Aprendemos a esperar o melhor dos nossos filhos
e a nos regozijar com os pequenos milagres.
Aprendemos que amar os nossos filhos é a missão
Mais importante, recompensadora e dasafiante que
alguma vez teremos – e fazemos o melhor que podemos,
um dia de cada vez.
O trabalho na área da intervenção precoce, nestes últimos anos, deu-me a oportunidade de conhecer e fomentar amizades com várias pessoas excepcionais. A minha amiga Kay Kronquist era excepcionalmente excepcional. Conheci-a quando trabalhava no Special Kids and Families Inc., Memphis, no Tennessee, em 1998. Gostei dela desde a primeira vez que a vi. Cedo descobri que por detrás daquele enorme sorriso e daquela dádiva de encorajamento, ela havia caminhado, e continuava a caminhar, por um caminho “cheio de buracos”. Kay era mãe de uma linda menina, que começou a ter ataques epilépticos quando era bebé, sem razão aparente. Devido a estes ataques, que só eram parcialmente controláveis, a Stacy passou a ter algumas necessidades especiais. A Kay era uma defensora inacreditável da sua filha, e uma inspiração para todos os pais e crianças com necessidades especiais.
O outro grande desafio com o qual a Kay se iria deparar foi uma batalha contra o cancro. Apesar de muitos tratamentos longos e dolorosos, a Kay perdeu a batalha contra a doença, em Maio de 2001. Dizer que ela perdeu não será a palavra mais adequada. Ela conseguiu ganhar a grande luta. A luta por uma vida cheia de conquistas, mesmo com a presença de dor, e que continua a ser uma inspiração para as pessoas que com ela privaram. Charlie, o marido de Kay, também ele uma pessoa excepcional, vive com a Stacy em Memphis, e continuam a lutar e receber o melhor que Deus tem para dar. A Kay escreveu este poema para os pais que sabem que nem tudo é fácil, mas que a vida pode ser uma enorme bênção.
(Meredith Layton é terapeuta da fala, que trabalha na área da intervenção precoce enquanto conselheira parental)
(*) Nota do tradutor:
EM – Equipa Multidisciplinar
TO – Terapeuta ocupacional
FT– Fisioterapeuta
TF – Terapeuta da Fala
EEG – Electrocenfalograma
ECG – Electrocardiograma
PEI – Plano de Educação Individual
CCD – Centros para o Controle de Doenças
ATA – Aparelhos de Tecnologia Assistiva
IRM – Imagem por Ressonância Magnética
quinta-feira, 18 de junho de 2009
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